Ao longo da história, existiram vários maestros. O argentino Stábile e o uruguaio Cea, nem sempre lembrados, brilharam no primeiro mundial. Um quarto de século depois, Puskas regia na Suíça a orquestra húngara, a melhor vice-campeã junto ao carrossel de Cruyff, e ao lado de Di Stéfano, o maior dos que não disputaram o torneio, formou o melhor meio-campo que os madridistas viram desfilar no Bernabéu. Na primeira conquista nacional, Pelé e Garrincha ficaram com a fama justa; atrás, porém, Didi fazia a bola chegar com as mãos. Na Espanha, em 82, culparam a Copa por Zico tê-la deixado derrotado. Mas aquele menino que só driblava quando necessário e humilhava a força foi o único capaz de fazer com que os taxistas desistissem das corridas e cuspissem o chiclete para vê-lo brincar nas ruas sem saída de Marselha. Em 94, ele optou por defender a França, e não a Argélia do seu velho, em competições internacionais. E graças a esta decisão os Les Bleus conquistaram em casa seu único título mundial. Fala-se por aqui que aquela final foi armada, mas isso é ranço de brasileiro que até hoje não engoliu o show de Zinedine em Saint Denis.
Viagem
19 de setembro. O presidente norte-americano James A. Garfield é assassinado. O presidente do Chile José Manuel Balmaceda se suicida. A Nova Zelândia torna-se o primeiro país do mundo a conceder o direito de voto à mulher. Adolf Hitler oferece paz à França e Alemanha, desde que mantidas as conquistas territoriais alemãs – a proposta foi negada. O general Juan Domingo Perón formaliza sua renuncia à presidência argentina. Garrincha escreve piadas em linhas tortas com os adversários de quatro admirando sua sem-vergonhice. Quando o sonho se aproximava do fim, a poucos metros da meta, pro delírio do Maraca, ele retroagia e começava tudo de novo, só pelo prazer da brincadeira.
Mao põe em curso a Revolução Cultural na China. Truman Capote publica A Sangue Frio e Gabriel García Márquez recebe honrarias pela saga dos Buendía em feiras literárias europeias. A seleção excursiona ao continente rumo ao tri, mas cai diante do maior jogador português da história, um africano. A primeira carta-bomba é aberta por membro da embaixada israelense em Londres. Garotas vestem minissaia em programa de auditório na tevê americana. Um terremoto de 8,1 graus na escala Richter arrasa a Cidade do México: 12 mil pessoas morrem. Avião francês é abatido com explosivo da resistência do Chade: 171 morrem. A equipe de produção do Metallica passa o som no palco principal da Cidade do Rock e o Condor´s estreia um uniforme novo na quadra 13. No lugar do vinho tinto, camisa azul com a frase “família curtição” estampada nas costas – acima dos números invertidos que combinavam com o calção preto e destoavam das chuteiras escandalosas. O Imperial desfilava o marca texto e Cava não abria mão dos óculos de jeito maneira.
O jogo
No início da partida, toque de bola nos dois lados e nenhuma chance de gol, nenhum arremate ao arco. Isso começou a mudar com Thiaguinho e Wagnão, o catimbó do agreste, Victor Ferraz do Chuteira, incentivados por um torcedor solitário compreensível às falhas – enquanto na defesa, Léo não deixava Neno jogar.
Aos 9, Alemão arrancou pela esquerda e cruzou rasteiro na área para o arremate certeiro de Pedrinho, que fez o caiçara se levantar atrás das grades e erguer os braços a vibrar na sacudida da rede. Imperial na frente! Cinco minutos depois, Léo recebeu na direita, cortou pra dentro e reforçou a empolgação. 2 x 0!
A melhor e única chance do Condor´s no 1º tempo foi um balaço do meio de campo de Baggio que explodiu no travessão.
O torcedor ainda gritava “linda bola, linda bola” na oportunidade desperdiçada por Cava quando Rubão recebeu de Marcão na esquerda, depenou o pássaro aguerrido e tirou do arqueiro com um toque diabólico, que ainda triscou a trave antes de espetar a caçapa. 3 x 0!
O caiçara entrou no gramado cambaleante, com um copo de Original na mão e os olhos esbugalhados pelo entusiasmo a fazer os idolatrados não perderem o foco. Aí, quando sol começou a dar uma trégua, ele tirou os óculos escuros, mirou a marca da cal e não parou mais de cornetar.
E o jogo melhorou na etapa final. Nos primeiros minutos, só deu Imperial. Léo bateu rasteiro de fora da área; fora. Pedrinho chutou cruzado da esquerda; Johnny saltou para espalmar – linda defesa. E Thiaguinho, pro delírio do fanático, dominou no peito na ponta direita e carimbou o ângulo oposto do arqueiro, um golaço! 4 x 0!
Só que, na saída de bola, depois de Neno insistir na individualidade, ela chegou linda nos pés de Felipe Roque, que bateu de primeira no canto esquerdo pra descontar e recolocar o Condor´s na partida. Golaço!
Parou por aí. Após sete minutos de monotonia, Thiaguinho recebeu passe venenoso em profundidade, infiltrou-se no ninho inimigo e com o bico da chuteira discreta tirou dos braços de Johnny. 5 x 1. O caiçara sossegou.
Treze minutos de troca de passes, jogo truncado, falta de ousadia, amarelos, pragmatismo e conformismo, Rod Stewart saciou o apito grená e antecipou o inevitável, sem contestações. Imperial se recupera do tropeço na rodada passada e agora encara o Shaktar dos Leks pela 4ª rodada, na quadra 11. Depois de sofrer o primeiro revés, o Condor´s tentará se recuperar horas antes contra o vice-líder no mesmo campo. Do primeiro ao quinto, tá tudo embolado.
Ficha Técnica
Imperial 5 x 1 Condor´s – 3ª rodada do XI Chuteira de Bronze
Gols: Pedrinho, Léo, Rubão e Thiaguinho (2x) (I); Felipe Roque (C)
Cartões amarelo: Trivellato e Cava (I); Bruninho e Peli (C)
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