Abusar, segundo o dicionário, significa – entre outras coisas – ultrapassar os limites. Não poderia haver definição melhor para descrever o desempenho do Abusados na atual edição do Chuteira de Bronze, que tem seu desfecho neste sábado dia 1º no duelo contra o Catado.
 
Vindos de um rebaixamento na última temporada, a equipe fez uma primeira fase bastante irregular, com 3 vitórias, 1 empate e 4 derrotas (pior campanha entre os 12 classificados – a única vez que um 6º colocado foi campeão foi na 11ª edição da Ouro, com o Real Paulista), o que lhes garantiu a classificação na modesta 6ª colocação. Com esse histórico, foram para os playoffs desacreditados pela grande maioria. Porém, o Abusados contrariou a lógica e foi, semana a semana, desbancando favoritos até chegar à grande final.
 
O que explica esse desempenho surpreendente? Para começar a entender essa história, duas palavras são essenciais: raça e efetividade. O time de Júlio César e cia. mostrou, ao longo da fase de mata mata, que “sabe sofrer”. Não foram raros os momentos em que a equipe se viu bastante pressionada pelo adversário, mas deu a vida para se defender e, na hora de ir ao ataque, fez o que tinha que ser feito.
 
Foi assim nas oitavas de final diante do Rio-Sampa, por exemplo, quando o time chegou a ficar longos minutos sem conseguir subir ao ataque, mas quando o fez não decepcionou e venceu de virada por 3 x 2 com gol no último lance! Ou nas quartas de final, contra o temido #Torce Contra, que teve bem mais volume de jogo e ainda assim saiu de quadra derrotado, desta vez na prorrogação, no gol de ouro, após empate em 2 x 2.
 
O estilo de jogo da equipe não é vistoso, plástico ou algo do tipo. É um jogo direto, objetivo, mas com clara qualidade em seus jogadores de ataque, que mesmo após uma primeira fase irregular, nunca deixaram de mostrar confiança em suas capacidades. Outra palavra-chave para explicar o desempenho do Abusados: coletividade. Júlio César é o principal goleador da equipe, mas o time mostrou que o jogo coletivo é sua grande característica. Na fase de mata mata, até agora, foram 8 tentos marcados por 6 jogadores diferentes. Rodolfo, Cuzido, Andrey, Bob, Valente... são vários os atletas que deram contribuições importantes na temporada, seja com gols ou assistências.
 
Uma qualidade importante do Abusados que também chama a atenção é o espírito do time. É muito comum vermos equipes que, após sofrerem um gol, acabam sentindo o golpe e desmoronando. Com o Abusados, isso é raríssimo. Sem falar no belo hábito de balançar as redes já nos acréscimos, como nos duelos diante do Rio-Sampa e Abre o Olho (empate nos acréscimos e classificação nas penalidades), prova de que são um grupo que luta até o fim.
 
As estatísticas defensivas do time nos playoffs também merecem destaque. Abre o Olho e #Torce Contra são equipes que conseguiram um número de gols muito expressivo na primeira fase – 51 e 46, respectivamente (os dois melhores ataques ao lado do Catado) –, com belas goleadas no currículo. Diante do Abusados, porém, apenas 2 tentos marcados por cada time, o que surpreendeu a muitos. 
 
Agora, não dá para falar desses números, ou contar a trajetória abusada, sem citar um nome: Pedro. Não é exagero nenhum afirmar que, se não fosse pelo goleiro, o Abusados não teria chegado até a final (torcedores e jogadores do #TC que o digam). Além de uma primeira fase muito boa – com destaque para o jogo diante do Maciota's – o arqueiro brilhou nos playoffs, sendo inclusive o MVP das quartas de final e o segundo melhor em quadra no duelo contra o poderoso Abre o Olho. Foram inúmeras defesas plásticas, sendo muitas difíceis, e alguns milagres ao longo do caminho. Caso consigam a façanha de se sagrarem campeões, Pedro será sem dúvidas um dos heróis da equipe, se não o maior deles.
 
Em suma, o Abusados é um time que possui um goleiro gigante, um atacante que sabe fazer gols, bom jogo coletivo e ainda conta com espírito guerreiro. Essas características floresceram na hora certa do campeonato, fazendo-os chegar até a finalíssima. Anular ao máximo o poderio ofensivo do adversário e ser o mais objetivo possível na hora de atacar: essa foi a receita abusada na fase de mata mata dessa temporada.
 
Na finalíssima, a equipe terá seu maior desafio: o Catado de Balãotelli, Interior e cia. Os números, mais uma vez, indicam o Abusados como azarão. Afinal, foram 24 gols marcados e 28 sofridos na 1ª fase, enquanto o Catado conseguiu marcar 49 vezes e sofrer apenas 17 tentos, com campanha exemplar: 7 vitórias e apenas 1 derrota. Nos playoffs, a equipe negra vem embalada após derrotar Spartacus (2 x 1) e La Buça Romana (7 x 1).
 
Apesar dos números, não há razão para o Abusados não acreditar em um final feliz. A equipe sabe o que precisa ser feito: tentar ao máximo brecar as conhecidas ações ofensivas do Catado para, depois, botar em prática seu jogo de objetividade e eficiência. 1 x 0 é goleada, pode ter certeza que esse é o pensamento. Se Pedro estiver inspirado, a pontaria estiver em dia e o espírito que demonstraram até aqui se fizer presente, poderemos presenciar uma decisão histórica no próximo sábado. Não pela vitória em si numa partida isolada, mas pelo abuso que seria esse Abusados derrubar, semana a semana, todos os favoritos ao caneco.