É preciso olhar com cautela, sem partidarismos, para o que vou dizer agora: não há final mais adequada para este momento do que CAV x Mulekes. Sim, alguns podem torcer o nariz para isso ou dizer que eu estava torcendo para tal, mas não é nada disso. É preciso reconhecer que nesta final estão em disputa duas escolas muito claras e distintas. Por um lado, muito similar; por outro, completamente diferente.
O Mulekes é tido, há ao menos 3 anos, como o time do futebol mais vistoso do Chuteira. Já ouvi muitas pessoas comentarem sobre o futebol alegre, envolvente, jogado pra frente, em busca do gol a todo momento. Isso o espectador vê a cada jogo da mulekada: trocas de passes, lançamentos longos, jogadas individuais, de velocidade, e muita técnica na hora de finalizar. É claro que erros sempre acontecem – de passes, de finalização – mas nada que comprometa o jogo sempre constante do campeão do XII Chuteira de Ouro.
Quando pensamos no CAV, os adjetivos são similares, assim como as características. Ou o leitor não vê no futebol atual do CAV trocas de passes, lançamentos longos, jogadas individuais, de velocidade, e muita técnica na hora de finalizar? A rigor, até mais que seu adversário da final. Entretanto, o que distancia ambas as equipes não é dentro de campo, mas sim fora.
O CAV é um time cujo manager Caio Fleischmann tem no marketing seu mais forte aliado. Sim, sem julgamento de valor no que se coloca aqui, Caio é um político, adora conversar e enaltecer a sua equipe, faz contatos como nenhum outro no Chuteira e tem uma obstinação para conseguir o que quer que daria inveja a José Serra. Ele é a essência desse CAV, finalista das três últimas edições do Chuteira (ganhou uma, perdeu outra e agora tem a negra) e dos três últimos festivais (perdeu um, ganhou dois).
A maior virtude de Caio foi conseguir montar um time para lá de competitivo, a ponto de muitos jogadores colocarem-no como um time quase profissional, distante da realidade que se pratica no Chuteira. Concordemos com isso ou não, certo é que a mentalidade que rege o Clube Atlético da Vila está mesmo além do que se acostumou ver nos últimos anos. A gerência da equipe é de fato pensada profissionalmente, com exigência de comprometimento e bom futebol de seus jogadores. A ordem é: resultado. O mote: investimento. Quem não está dentro dessa proposta vai cair fora rapidinho. Daí a troca constante de jogadores. No CAV permanece uma base, mas a cada semestre vemos um time diferente.
Além disso – e não hesito em colocar como um dos segredos desse time vitorioso –, a cabeça no lugar de todos seus jogadores (o que o Mulekes se assemelha). Afinal, você já viu o CAV brigar, arrumar confusão, ter jogador expulso? É muito raro isso acontecer, mesmo em momentos de extrema tensão. Ponto positivo para Caio, que sempre frisa isso com seus jogadores. Afinal, ele não quer ver o CAV perder pontos ou jogadores sem necessidade. O que está certo. Em contrapartida, não é o que se vê em muitos de seus adversários – e o que acaba por derrubá-los.
A filosofia que o CAV traz ao Chuteira pode ser considerada inédita sim. Ali, o que prevalece é a ordem inversas das coisas. Poucos eram amigos antes de jogar juntos, mas se tornaram amigos (ao menos parte deles) jogando juntos. Alie jogadores que se dão bem (quem não se acostuma com o esquema sai em um semestre), uma administração cuja mão de ferro visa produtividade – a amizade não é fator essencial para a permanência ou chegada de um jogador – e coloque craques de bola no plantel. Pronto, você tem um grande time, mas que só vai ser campeão se der a famosa “liga”. Este CAV deu liga já no festival. O atual Chuteira é continuidade daquilo.
Davi é o maestro, camisa 10. Sabe lançar, fazer gols, driblar, dar show. O pequenino Teté é referência na defesa, assim como o recém-chegado Binho. Jogam duro, na bola, sem brincar. No meio, Renan, Edinho e Renanzinho. Na frente, Bruno Cruz e Cidrão. Sem contar a figura sempre segura de Diego Gallego no gol. Se você comparar com antigos times do CAV, que já teve Betoni na defesa, Vitinho no meio e Jorginho no ataque, por exemplo, pode parecer um time de menor expressão, até mesmo de menor qualidade. Mas não é! O CAV atual é dos melhores times que o Chuteira já viu em ação porque simplesmente não tem uma referência única a decidir jogos.
Se no título do CAV na Prata, Vitinho foi o diferencial; se, há um ano, ao bater o Bacana e ganhar o caneco dourado, Davi foi essencial; se na campanha do vice-campeonato, semestre passado, Jorginho foi o homem gol do time, no atual torneio não há alguém que seja essa referência simplesmente porque o diferencial é a engrenagem, que começa com o goleiro e termina no gol adversário. E ela vem funcionando quase à perfeição. Em 11 jogos, foram 9 vitórias e 2 empates.
Em relação ao Mulekes, o jogos dos garotos é o mesmo há um bom tempo. Todo mundo sabe como eles jogam, mas poucos são os que conseguem pará-los. Mesmo estes, geralmente vencem na base da superação, da vontade, até da sorte (vide o Só Quem Sabe no atual torneio, que, precisando vencer para não cair, segurou a avalanche de bolas contra seu gol). Ou seja, podemos considerar que parte das derrotas do Mulekes é acidente de percurso.
Se, como já dito, dentro de quadra o estilo de jogo é muito similar, é fora que o Mulekes se coloca como o tipo de time completamente inverso ao do CAV. Enquanto este preza pela organização fora de quadra, o planejamento, a estrutura, o Mulekes passa a sensação oposta. É como se o time fosse todo sábado brincar de jogar bola. Chegam em cima da hora, jogam, dão show boa parte das partidas e vão embora. Tirando o Seu Caetano, que adora ver os jogos e cair na resenha, o resto é quase desconhecido da galera.
Soma-se a essa diferença do CAV o marketing zero feito por Leandrinho, Leco, Gian, Rogerinho e cia. Além, se pensarmos nos comentários sempre provocadores de Rogerinho no site e nas redes sociais, chegamos à conclusão que o marketing é negativo do time! Eu já ouvi gente dizendo que vai torcer contra o Mulekes porque considera o time muito metido. A impressão que eu tenho não é essa, mas sim de jovens que tem mil coisas a fazer na vida – uma delas é ir todo sábado bater uma bolinha e pronto. Ou seja, não vivem o Chuteira com a mesma intensidade de outras equipes, de outros jogadores.
O Mulekes une uma garotada que estuda e joga junto na faculdade. O entrosamento é visível, e isso – todos sabem – facilita as coisas dentro de campo. Jogadores habilidosos do meio para frente e uma defesa viril. No meio, na ligação da defesa ao ataque, um maestro com a função que Davi tem no CAV, Gian, só que com características distintas. Enquanto o 10 do CAV é ciscador, driblador, franzino, o 8 do Mulekes tem porte físico de um clássico camisa 10, que observa o jogo e carrega a bola até a frente e a solta com perfeição. No quesito arremate a gol, ambos são certeiros, vide o gol de Davi contra o Mercenários (semifinal) e o de Gian contra o Coringa (quartas de final).
Marketing é comunicação, e comunicação dá visibilidade a qualquer equipe. Até nisso o CAV sobra. O time tem um perfil numa rede social com mais de 2 mil seguidores, com quem interage e exibe sem modéstia suas conquistas. E o Mulekes? Nada. Só sabemos o que vemos de sábado...
Enfim, neste final de Chuteira de Ouro, a 16ª edição, enfim teremos o duelo tão esperado pelos fãs do bom futebol. Dois times que jogam de maneira muito similar, mas completamente diferentes em suas posturas fora de campo. Como o fora não ganha jogo e estamos a falar de futebol, a decisão é imprevisível. Tudo vai depender do dia de cada um, de suas estrelas, dos goleiros. Porém, uma coisa é certa: se o CAV ganhar vai todo mundo ficar sabendo e relembrando por um bom tempo do título. Afinal, o Caio não vai deixar passar em branco tamanha conquista. “Terão de me engolir”, deverá pensar ele. E se for o Mulekes? Bom, o Chuteira não deixará ninguém esquecer, mesmo com a comemoração tímida que provavelmente a rapaziada ali vai fazer.
PS: No único confronto entre CAV e Mulekes até o momento – no semestre passado –, deu este último, 3 x 2. Outros tempos, claro.
Comentários (1)
Nós somos metidos mesmo , o Gian então nem se fala , vários rachas no grupo , culpa também do Leco fominha q não passa a bola, do Rafinha q quer fazer zaga e pivô ao mesmo tempo , tá loko só tem moleque nesse time... Só fui pro Mulekes pra tirar sarro dos outros que eu jogo no Mulekes, não preciso nem jogar , estamos na final e isso sim é um jogo , não tivemos nenhum até agora na temporada , quem for ao Playball verá a nata do Chuteira hahahahahahhahahahahaha