Um time que todos esperavam que chegaria lá. Outro time que ninguém apostaria que estaria lá. CAV e Primatas na grande final do XX Chuteira de Ouro. Dois times distintos que terminam o campeonato da mesma forma que começaram – enfrentando-se. Na 1ª rodada, dia 29 de agosto, CAV e Primatas fizeram a primeira partida de 13 (no caso do CAV, 12) no decorrer dos meses até este 12 de dezembro. Na ocasião, o Primatas reestreava na Série Ouro depois de enfim subir da Prata, quando chegou à semifinal. Uma trajetória que, na verdade, remonta a 2013, quando, na Ouro, foram punidos com o rebaixamento para a Aço.
A semente da final do Primatas na Ouro começou ali. Punido, remou lá de baixo rumo ao topo. Foi campeão da Aço (22013), campeão da Bronze (12014), teve uma Prata pífia no segundo semestre de 2014, quando não caiu por pouco, para se levantar na edição seguinte e ser semifinalista. Perdeu ali para o A.A.A., que seria campeão em seguida. Em todo caso, garantiu a volta para a Ouro. Sim, a macacada tinha voltado, para usar o bordão que o time cansou de gastar com orgulho no decorrer dos tempos.
Daquela punição a uma estreia desacreditada na Ouro, com apostas de que o time voltaria para a Prata. E foi justamente na estreia, ante o então bicampeão, que o time mostrou que não seria coadjuvante, que sua luta não era para não cair. Diante do poderoso CAV, fez partida primorosa defensivamente e vencia até a metade do segundo tempo, quando Gama – o homem do jogo – acabou expulso por falar demais com a arbitragem. Sem sua válvula de escape, sem seu homem gol, o time perdeu a cabeça e o jogo. Saiu derrotado, mas deixou a melhor das impressões. Sim, o Primatas tinha sangue nos olhos, corria adrenalina em suas veias, tinha o desejo de vencer e surpreender.
Fez uma primeira fase alternando ótimos jogos com péssimos. Na rodada final, avacalhou e, sem seu time principal, tomou um vareio do Arouca Jrs. Podia ser o fim da linha se o Peneira vencesse, mas os deuses do society quiseram outro destino à macacada. Peneira perdeu, foi rebaixado, e viu o Primatas se classificar na 6ª posição, na bacia das almas. De certa forma injusto para o que time vinha mostrando – mesmo nos empates e nas derrotas, apresentara um bom futebol.
A injustiça foi corrigida quando teve início o mata-mata. Na hora de matar ou morrer, o time se mostrou grande, poderoso, com uma magia que o fez instransponível. Despachou com tranquilidade o A.A.A.; ante o Futsamba, mais um empate e o teste de nervos e coração com a decisão nas penalidades. Aí veio o maior desafio até então – o encardido Inflação, com todo mundo lá. De novo a máquina que se fecha e se mostra instransponível entrou em ação. Um time vibrante, que extravasa em alma e coração, se colocou durante 50 minutos para segurar o Inflação. Não entrou uma bola no gol primata, enquanto Gama tratou de fazer o gol da classificação lá na frente numa das poucas chances que teve. Sim, o Primatas transbordava raça, dedicação e vontade. Prior dava um rosto a esse sentimento.
Diante dos percalços e do que o time mostrou até aqui, é justo e possível sonhar com o título. Do outro lado nada menos que o CAV, o invencível CAV, o CAV de 11 jogos e 11 vitórias, o CAV frio, bem postado, de toque de bola fácil e instinto assassino. O time é pacato, comanda o jogo do início ao fim, não dando chances aos adversários. Fez isso já 11 vezes e foram raras as vezes que se viu em apuros – talvez a única tenha sido justamente naquela estreia ante o adversário da final.
Diante do Primatas, o CAV joga para entrar na história como o primeiro tetracampeão do Chuteira. Joga também para cravar uma marca inédita – o perfeccionismo de ponta a ponta. Nunca ninguém foi campeão com 100% de aproveitamento na Ouro. O próprio CAV chegou perto há um ano, quando foi campeão em cima do Arouca nos pênaltis. Chegou a vez de quebrar mais um recorde?
São dois times completamente distintos e opostos. Um é dominador, não dá chances ao adversário e mata o jogo o quanto antes. Com frieza e técnica, atropelou adversários, fez o Mulekes parecer criança na semifinal. Tem 20 jogadores bons ou ótimos e a cada troca de atleta o time melhora. Ninguém ali está para brincadeira. É uma máquina criada e alimentada para vencer. E vem fazendo isso muito bem. O outro time é absolutamente fervoroso, vibrante, parece fio de alta tensão espocando energia. Um elenco que abraçou a personalidade explosiva de seu comandante e vestiu a carapuça da emoção, da vibração, do muito mais que um sentimento.
Na final deste sábado, pelo que mostraram no decorrer da competição, só uma coisa é capaz de derrotar o futebol mecânico do CAV. Coração. Raça. Vontade. E isso o Primatas mostrou que tem. É o único capaz de impedir o feito inédito do muito favorito CAV. Que o CAV não espere a baba que foi o Mulekes. O Primatas mostra brio e não entra derrotado. Acredita, e isso pode fazer toda a diferença. Pode até perder o jogo, mas certamente cairá após muita luta e derramamento de sangue. O gosto de vexame na boca não será opção.
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